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Converted by Falcon Hive

Usarei o dia das mães como pretexto para falar da minha, e de como contei que sua única filha gosta de meninas.

Por parte de mamãe, sou filha única. E ela me foi mamãe e papai tudo junto, diz que eu fui produção independente. Ela queria ter filhos, não achou um homem digno de casamento, e cá estou eu. Psicólogos, psicanalistas e sabe-tudos de plantão: Sintam-se livres para fazer ligações entre isso e o fato de eu ser lésbica, eu não ligo, acho toda e qualquer forma de explicar o tal fato uma besteira mesmo. Sou porque sou, porque mulher é bom! E pronto.

Voltando... Mamãe foi uma mamãe perfeita. Me educou bem, me deu oportunidades, sempre me apoiou. Me levou para viajar, conhecer o Brasil com ela, me deixou sair das fronteiras e me aventurar pelo mundo. Fez minhas vontades, cedeu aos meus caprichos, mas nunca deixou de me ensinar os limites que a vida impõe. Me ensinou a valorizar tudo o que eu tenho e a buscar as coisas por mim mesma. Sempre fomos só eu e ela em casa, então somos muito próximas. Aos 17 fui fazer faculdade em outra cidade, antes disso já tinha passado um ano morando fora. Mas o nosso cordão umbilical é bastante elástico.

Depois de dois anos na faculdade veio a primeira namorada. Aí comecei a me sentir muito mal por não poder falar disso para minha mãe, passou a ser uma parte muito grande da minha vida. Se nós nos dávamos tão bem, por que ficar no armário para a minha mãe? Por que agora ela haveria de parar de me apoiar em tudo? Contei.

Contei pelo telefone, chorando horrores, enquanto na casa da então namorada. Não escolhi contar pelo telefone, aconteceu, posso contar a história em outra ocasião (se vocês quiserem). Mamãe disse que não sentia mais orgulho de mim, que não queria me ver por um tempo, que estava muito decepcionada e tudo e tal, mas terminou o telefonema dizendo que me amaria mesmo assim. Isso me deixou mais tranquila. Mesmo assim as semanas seguintes passaram sem muito contato e quando nos falávamos percebia que ela estava muito triste, desanimada, tive medo de que entrasse em depressão. Como uma tentativa desesperada de fazer ela parar de se sentir mal por ter uma filha lésbica eu apelei. Comprei o livro “Papai, mamãe, sou gay!”, escrevi uma carta e coloquei dentro, fiz um pacotinho e enviei pelo correio.

Ela disse que demorou uns dias para conseguir começar a ler depois que o livro chegou mas que quando o fez tudo melhorou. Logo depois ela voltou a me procurar, demonstrou estar tranquila, confortável com os fatos e de volta ao normal. Voltou a falar em vir morar comigo (coisa que fez depois, quando se aposentou) e veio me visitar. Conversamos pessoalmente, ela me assegurou que havia me aceitado, que estávamos bem, que ela me amava e que seu único medo era que eu fosse infeliz pelos obstáculos que a sociedade poderia impor. Expliquei que infeliz eu seria se me escondesse, se mentisse para mim mesma, se ficasse sem amar por medo de amar uma mulher. Ela chegou a brincar dizendo que nunca sentiu atração por mulheres mas que, como não foi feliz com os homens, quem sabe até teria sido melhor se ela tivesse sentido.

Minha mãe logo conheceu minha então namorada, cuja mãe não sabia oficialmente da sexualidade da filha mas dava todos os sinais de desaprovação possíveis, e conversou com ela sobre isso. Hoje ela mora aqui comigo, conhece a Namorada, conheceu até a mãe da Namorada. Trata meu relacionamento como tratou o meu único namorico com um garoto, ou seja, com a maior naturalidade.

Conclusão: Minha mãe é incrível, tenho muita sorte por tê-la. Sei que são poucas as meninas lésbicas que tem essa sorte. Sei a bênção que isso é e por isso que eu digo, minha mamãe é a melhor do mundo! Podem competir com ela se quiserem, dizendo que as suas são melhores, eu não vou me deixar levar. Mesmo assim, feliz dia das mães para a minha, para as suas, e para todas as mamães do mundo!

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(2) Comments

  1. Anônimo On 11 de maio de 2009 às 17:31

    Um dia minha mãe vai ser assim... Talvez na proxima encarnação... mas vai....

     
    Alice On 12 de maio de 2009 às 09:22

    Minha mãe sabe, aceita, mas não faz festa. Ela engole. Mas pra mim, já está de bom tamanho!

    P.S.: linkei o blog de vocês lá no Alice's.